terça-feira, setembro 04, 2007

Primeira Coríntios Treze




Ainda que eu fosse poliglota
entre os homens e os anjos
E não possuísse amor,
Tornar-me-ia um bronze que treme
ou um címbalo que chora,

E ainda que eu tenha profecia
E saiba todos os mistérios
E toda ciência,
E ainda que eu tivesse toda fé para teletransportar montes
E não possuísse amor, permaneceria vazio
E ainda que doasse todo meu monopólio
E ainda entregasse meu corpo para que incinerem
E não possuísse amor, continuaria a ser um inútil.

O amor tarda irritar-se, permanece benigno,
O amor não enciúma,
O amor não se exibe,

Não se ensoberbece,
Não age indecentemente
Não busca futilidades para si mesmo,
Não amola,
Não premedita o mal
Não graceja sobre a injustiça

Porém,
rejubila-se com a verdade

Tudo tolera,
Tudo crê,
Tudo espera,
Tudo resiste,

O amor nunca desmorona,
Se, porém, houver profecias
Desaparecerão.
Se, porém, houver línguas
Acabarão
Se, porém, houver ciência
Dissipar-se-á

Porque conhecemos partes
E profetizamos partes

Quando, porém, chegar o que é concluso
O que está em parte dissipar-se-á

Quando eu era uma criança,
Falava como uma criança,
Sentia como uma criança,
Raciocinava como uma criança,

Então... tornei-me homem,
Parei com as coisas de criança,

Agora, portanto, vemos por espelho em enigma
O que será visto face a face
Agora conhecemos por partes
O que conhecerei assim como sou conhecido

Agora, porém, permanece:

Fé,
Esperança,
Amor.

Da tríade,
O maior destes
É o Amor

quinta-feira, agosto 09, 2007

Bonhoeffeando




Quem sou eu?
Freqüentemente me dizem,
Que deixo minhas quatro paredes,
Sereno, alegre e firme.
Como quem sai de uma fortaleza.

Quem sou eu?
Freqüentemente me dizem
Que falo com os que me observam
Livre, amável e com clareza.
Como se fosse eu a mandar.

Quem sou eu?
Também me dizem
Tranqüilo, sorridente e altivo.
Como alguém acostumado a vencer.

Então, serei realmente
tudo isso que dizem a meu respeito?
Ou sou apenas o que sei a
respeito de mim mesmo?

Inquieto, ansioso, doente,
Como um pássaro numa gaiola,
Lutando para respirar
como se mãos apertassem a garganta,
Faminto por cores, flores,
Pelo canto dos passarinhos,
Sedento de uma palavra amiga,
De atenção,

Tremendo de ira
Por causa da arbitrariedade
E ofensa mesquinha,

Irrequieto
À espera de grandes coisas,
Em angústia impotente
Pela sorte de amigos distantes,
Cansado e vazio até para orar,
Para pensar, para criar,

Desanimado
E pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu?
Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro?
Sou ambos ao mesmo tempo?
Diante das pessoas um herói
E diante de mim mesmo um hipócrita?
Covarde, queixoso e digno de pena?

Ou aquilo que ainda há em mim
Será como um exército derrotado,
Que foge desordenado
À vista da vitória já obtida?

Quem sou eu?
Um solitário a perguntar
Que zomba de si mesmo,
Rígido consigo mesmo?

Seja eu quem for,
O Senhor, ó querido Deus,
Sabes que Te amo
E que sempre, sempre pertencerei
A Ti.

AMÉM!
><<>

sábado, junho 09, 2007

Raça Celofânica


Um dia descobrimos que não somos tão fortes,
De tudo isso, o pior é saber que jamais houve fortaleza alguma
Os portais se dissipam
E as muralhas viram miragens
As pessoas evaporam
E nos deparamos com um deserto eterno
Em derredor, em derredor, um deserto sem fim
Que bela ficção é a raça humana.

Auto-retrato




Eu uma cebola
Um bulbo cheio de camadas
Que se interpõe em outras camadas
Cada camada menor, Intra-robusta
Cresce e expulsa a camada externa
Cada camada menor mata a si mesma
A Cebola mata-se constantemente
Eu sou assim da cebola uma metáfora
Um ser que nasce e se mata a cada dia
O Addson que nasce pela manhã
Será morto pelo Addson que nasce a tardinha
Porque ambos não conseguem coexistir hipostaticamente
É uma luta colossal, a última camada sempre resiste
Mas a nova termina por vencer
Certo dia, nessa luta titânica de Addsons
Aquele que morria perguntou àquele matava:
- Por que me odeias tanto?
E Addson respondeu:
- Porque um dia te amei demais.
Quem sou eu uma cebola!
Vá se catar!